Este texto não está pronto, mas lá vai senão não vai...
Envelheço descaradamente. Sem
vergonha. Sem culpa. Sem truque pra disfarçar. Exibo mesmo. Oxente!, cheguei
até aqui e não vou aproveitar pra experimentar?!
Outro dia, li um texto de uma
atriz famosa, bonita – muito bonita –, boa escritora. Quando li, tomei um
susto. O povo achando lindo e maravilhoso o texto e eu achando ‘o ó’. Não
exatamente ‘o ó’. Fiquei com pena da mulher que, no texto, parecia implorar,
‘alguém pode me comer?’. (Sim, estou sendo ácida.) Um texto sobre a falta que a
autora sentia de ter um companheiro. Justo ela foi porta-voz dessa solidão no
envelhecer. Parecia um anúncio de ‘minhas qualidades apesar da velhice’. Comparava-se
a um queijo. Algo do tipo, ‘ainda sou comestível e posso ser deliciosa com uma
taça de vinho’. O texto veio no zap,
encaminhado por uma amiga querida. Fiquei quieta. Azamiga tudo se derretendo
com o texto, e eu quieta. Até que disparei: tem coisa nesse texto que tá de dar
dó. Azamiga não entenderam e perguntaram o que eu pensava de diferente. Adorei
a pergunta e tasquei um, ‘mulheres queridas, neste meu envelhecer estou mais
pra faca e dente do que pra queijo!’. Mentira pura, também me sei queijo
podrinho e especial. E, muitas vezes, um queijo podrinho e estragado. Mas era
um dia de empoderamento – palavra da moda! – e realmente fiquei duvidando de
que ela ‘não arrumava ninguém porque estava na lista das velhas’.
E ao mesmo tempo me pus a pensar
sobre o ‘estar na lista das velhas’. O texto traz uma coisa que pode ser ampliada.
Quando a gente não está ‘na crista da onda do gosto popular’ – e o gosto popular
é coisa que muda muito... – vai se deparando com essa solidão que pede me olhe com olhos de ver além do estereótipo,
além da aparência. Descubra em mim
alguém que possa despertar, em você, amor e desejo de estar junto. E a
aparência tanto pode ser muita beleza ou muita feiura. Os muito belos podem ter
a própria beleza como inimiga. Como uma espécie de redoma que esconde a pessoa.
E os muito feios também. (Aqui levanto a bandeira ‘pelo direito de ser feio sem
querer me embelezar’, mas isso já é
mais ou menos outro assunto...)
Aí comecei a pensar nesse negócio
de como a gente se vê e como o outro nos olha (ou, nem olha...). Quando D.
Velha vai chegando em nós, a descoberta não é logo no espelho do nosso banheiro.
É no espelho do olhar do outro. De repente, as pessoas começam a chamar a gente
de ‘senhora’, de ‘tia’. Nos salões de beleza as ‘dicas de beleza’ são ‘esconder/disfarçar
os brancos’, maquiagem pra esconder/disfarçar as rugas. Pintei meu cabelo até
os 47. Então, só depois daí, é que descobri o protagonismo dos cabelos grisalhos.
Ou, melhor, d’a velha’ colada em mim. Até uma pessoa se levantar da cadeira, no
metrô, pra me dar o lugar, eu não tinha ideia do impacto da minha estampa
envelhecida sendo atirada de volta pra mim, pelo gesto do outro. Foi uma
revelação e tanto. O primeiro assento cedido é como o primeiro sutiã: a gente
nunca esquece. E as revelações sobre os choques dos olhares não param aí. Mas
vou parar porque quero mudar de rumo.
Quero falar de Amor, porque foi
esse o tema maior que o texto da linda escritora me trouxe. Ela fala do que ela
gosta nela. Isso gostei no texto. Sem vergonha de se mostrar e sem falsa
modéstia. Amor é meu argumento ácido quando me sugerem truques para disfarçar
os sinais da velhice. Só precisa ser
bonito quem não é amado, quem é amado pode ser só o que é. Pode até *rejuvelhecer*!
*palavra criada pela minha sobrinha Mel, 08 anos.
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