sábado, 15 de agosto de 2015


Este texto não está pronto, mas lá vai senão não vai...

Envelheço descaradamente. Sem vergonha. Sem culpa. Sem truque pra disfarçar. Exibo mesmo. Oxente!, cheguei até aqui e não vou aproveitar pra experimentar?!

Outro dia, li um texto de uma atriz famosa, bonita – muito bonita –, boa escritora. Quando li, tomei um susto. O povo achando lindo e maravilhoso o texto e eu achando ‘o ó’. Não exatamente ‘o ó’. Fiquei com pena da mulher que, no texto, parecia implorar, ‘alguém pode me comer?’. (Sim, estou sendo ácida.) Um texto sobre a falta que a autora sentia de ter um companheiro. Justo ela foi porta-voz dessa solidão no envelhecer. Parecia um anúncio de ‘minhas qualidades apesar da velhice’.  Comparava-se a um queijo. Algo do tipo, ‘ainda sou comestível e posso ser deliciosa com uma taça de vinho’.  O texto veio no zap, encaminhado por uma amiga querida. Fiquei quieta. Azamiga tudo se derretendo com o texto, e eu quieta. Até que disparei: tem coisa nesse texto que tá de dar dó. Azamiga não entenderam e perguntaram o que eu pensava de diferente. Adorei a pergunta e tasquei um, ‘mulheres queridas, neste meu envelhecer estou mais pra faca e dente do que pra queijo!’. Mentira pura, também me sei queijo podrinho e especial. E, muitas vezes, um queijo podrinho e estragado. Mas era um dia de empoderamento – palavra da moda! – e realmente fiquei duvidando de que ela ‘não arrumava ninguém porque estava na lista das velhas’.

E ao mesmo tempo me pus a pensar sobre o ‘estar na lista das velhas’. O texto traz uma coisa que pode ser ampliada. Quando a gente não está ‘na crista da onda do gosto popular’ – e o gosto popular é coisa que muda muito... – vai se deparando com essa solidão que pede me olhe com olhos de ver além do estereótipo, além da aparência. Descubra em mim alguém que possa despertar, em você, amor e desejo de estar junto. E a aparência tanto pode ser muita beleza ou muita feiura. Os muito belos podem ter a própria beleza como inimiga. Como uma espécie de redoma que esconde a pessoa. E os muito feios também. (Aqui levanto a bandeira ‘pelo direito de ser feio sem querer me embelezar’, mas isso já é mais ou menos outro assunto...)

Aí comecei a pensar nesse negócio de como a gente se vê e como o outro nos olha (ou, nem olha...). Quando D. Velha vai chegando em nós, a descoberta não é logo no espelho do nosso banheiro. É no espelho do olhar do outro. De repente, as pessoas começam a chamar a gente de ‘senhora’, de ‘tia’. Nos salões de beleza as ‘dicas de beleza’ são ‘esconder/disfarçar os brancos’, maquiagem pra esconder/disfarçar as rugas. Pintei meu cabelo até os 47. Então, só depois daí, é que descobri o protagonismo dos cabelos grisalhos. Ou, melhor, d’a velha’ colada em mim. Até uma pessoa se levantar da cadeira, no metrô, pra me dar o lugar, eu não tinha ideia do impacto da minha estampa envelhecida sendo atirada de volta pra mim, pelo gesto do outro. Foi uma revelação e tanto. O primeiro assento cedido é como o primeiro sutiã: a gente nunca esquece. E as revelações sobre os choques dos olhares não param aí. Mas vou parar porque quero mudar de rumo.

Quero falar de Amor, porque foi esse o tema maior que o texto da linda escritora me trouxe. Ela fala do que ela gosta nela. Isso gostei no texto. Sem vergonha de se mostrar e sem falsa modéstia. Amor é meu argumento ácido quando me sugerem truques para disfarçar os sinais da velhice. Só precisa ser bonito quem não é amado, quem é amado pode ser só o que éPode até *rejuvelhecer*!

*palavra criada pela minha sobrinha Mel, 08 anos.

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